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Eva Potiguara pertence ao Povo Potiguara Sagi Jacu, em Baía Formosa/RN. Graduada em Artes visuais, Mestrado e Doutorado em Educação pela UFRN. É escritora, contadora de histórias, articuladora nacional do Mulherio das Letras Indígenas, Ganhadora do Prêmio Jabuti 2023 na categoria Fomento à Leitura e do Prêmio Literatura de Mulheres Carolina Maria de Jesus 2023 do MINC, na categoria Romance. 2c96b

É HORA DE ROMPER O SILÊNCIO CONTRA A DEVASTAÇÃO DISFARÇADA DE DESENVOLVIMENTO 5y2b4c

05/06/2025 09h20

 

Em tempos em que os rios são tratados como trincheiras para máquinas, onde o verde cede lugar ao cinza, e o canto dos pássaros é silenciado pelo estrondo das máquinas, nos deparamos com uma encruzilhada cruel: seguir adiante rumo ao abismo ou recuar para preservar o que ainda resta.

 

Na crônica da semana ada, falamos que o Brasil se vê diante de mais um risco à preservação da vida, com o Projeto de Lei 2.159/2021, recentemente aprovado pelo Senado dia 21 de maio deste ano. Temos chamado do “PL do Licenciamento para o fim do mundo”, tendo em vista  o que está em jogo, é a autorização para o avanço desenfreado de obras e empreendimentos que podem devastar florestas, contaminar rios, sufocar comunidades e matar o futuro. 

 

Esta autorização para o “rápido progresso”, significa  avançar sobre as veias vivas da nossa terra, ignorando os clamores de quem dela depende para existir, como os povos indígenas e quilombolas, guardiãs de saberes ancestrais e da biodiversidade. 

 

O lugar em que cultivam o bem viver com a agricultura familiar, com agrofloresta ancestral, e seus diversos saberes milenares, estão na mira de interesses que veem na natureza apenas cifras. A Convenção 169 da OIT, que assegura o direito à consulta prévia, livre e informada dessas comunidades, é tratada como obstáculo, quando deveria ser pilar de qualquer decisão que impacte seus modos de vida.

 

As Terras Indígenas são comprovadamente, as áreas mais preservadas do país. São barreiras vivas contra o desmatamento, contra as queimadas, contra o colapso climático. São berços de cultura, biodiversidade e equilíbrio. E ainda assim, são os territórios mais atacados.

 

É hora de romper o silêncio, de erguer a voz contra a devastação disfarçada de desenvolvimento, de exigir que nossos representantes honrem a Constituição e os compromissos internacionais assumidos.

 

Mais de 259 Terras Indígenas e 1.553 Territórios Quilombolas estão sob ameaça direta de um projeto que atropela direitos constitucionais, ignora a Convenção 169 da OIT, e abre caminho para empreendimentos de alto impacto social e ambiental, sem consulta às comunidades afetadas.

 

A Constituição de 1988 determinou que todas as Terras Indígenas fossem demarcadas em até cinco anos. Já se aram mais de três décadas, e essa dívida com os povos originários continua impune e aberta — como uma ferida que nunca cicatriza.

 

O chamado “PL da Devastação”, se aprovado, não afetará apenas quem vive nas florestas, nos cerrados, nos manguezais. A perda é coletiva, a  conta é inevitável. A consequência, irreversível

 

Mas não nos enganemos: a destruição que se abate sobre esses territórios não é isolada. Cada árvore tombada, cada rio contaminado, cada cultura silenciada, reverbera em nossas cidades, afetando o clima, a segurança alimentar e a qualidade de vida de todos.

 

Cada vez que se autoriza um novo desmatamento sem critério, uma nova barragem sem escuta, uma estrada sobre cemitério ancestral, não se está apenas violando direitos: está-se violando a vida — a sua, a minha, a dos que ainda virão.

 

O fim do mundo, ao contrário do que se pensa, não chegará com explosões ou meteoros. Ele chegará por decreto. Com número de projeto, e ausência de consulta.

 

Não é tarde para reagir. Pressione seu deputado, para que se envolva nesta luta, compartilhe, comente, converse, aja! 

 

Defender os povos indígenas e quilombolas é defender o Brasil que ainda respira. É escolher o lado da vida, antes que ela vire apenas uma lembrança abafada pela poeira da destruição.

 

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).