Procurador Federal, membro da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, da União Brasileira de Escritores no Rio Grande do Norte e da Associação Sertão Raiz Seridó. 3a1e2c
Há anos venho acompanhando os textos genuínos, muito autênticos do mestre cearense/potiguar Benedito Vasconcelos Mendes. Além da sua autoridade como profundo conhecedor das coisas do semiárido, o que o levou – com desejo e empenho – a erigir o famoso “Museu do Sertão”, nas imediações da cidade de Mossoró, o Professor Benedito vem nos destinando muitos dos seus saberes através dos vídeos e textos que publica na internet e, felizmente, numa das redes sociais da querida Academia Norte-Rio-Grandense de Letras (tenho a honra e o prazer de ser seu confrade nesse importante sodalício).
Durante uma viagem ao exterior, ao chegar ao destino, religuei o celular e havia recebido um honroso e inafastável convite (via WhatsApp) para escrever um texto acerca do seu novo livro, que agora o leitor tem em mãos e diante dos olhos. Um livro de “Crônicas Sertanejas”. Ora, somente o título já me pegou e me atraiu de vez. Não é muito comum um livro dessa natureza específica, uma reunião de crônicas publicadas na mídia impressa ou na internet, com temática tão benfazeja para todos os que amam o sertão, seja ele situado em que ponto da federação for, destacadamente do Nordeste, mas com repercussão no mundão todo (Guimarães Rosa já dizia: “O sertão está em toda parte”).
Escrever esse texto – diante da qualidade humana e qualificações intelectuais do autor, tornou-se um desafio – que decidi assumir, mesmo correndo todos os riscos de não alcançar o patamar da obra e do autor. O meu querer bem e a iração que nutro pelo mestre Benedito não são pequenos. Sempre fiz questão de afirmar isso, em público ou no particular. Muito elevado também é o gosto que tenho pelas coisas do Sertão nordestino (no meu caso, mais especificamente pelo Sertão seridoense, terra das raízes de alguns dos meus irmãos, dos meus pais e dos ancestrais todos; portanto, das minhas raízes também). A oportunidade de conhecer mais sobre o semiárido cearense e mossoroense, até como fator comparativo, apresentou-se como um atrativo a mais, para que eu pudesse ingressar mais seguro e entusiasmado no livro.
Dessa maneira, eu me enfiei, como numa pega do boi no mato, nos capítulos extremamente saborosos dessa obra, que nos carrega, com leveza e sabedoria, aos pontos mais interessantes da vida do homem em meio ao ambiente mágico sertanejo. A visão telúrica e apaixonada do nosso autor é algo que nos entrega emoções na leitura de suas palavras, cada qual em lugar certíssimo, sendo feliz na escolha dos temas e na forma como aborda os variados assuntos, nessa verdadeira “viagem ao centro da terra” (brinco aqui, por óbvio, com o título de Julio Verne), da terra às vezes esturricada, às vezes verdinha, que guarda segredos, mistérios e delícias, realizações plenas do homem trabalhador e que vive os dias e as noites com valentia, ímpeto e paixão.
Benedito começa o livro com uma frase tocante, comovente: “Amo meu sertão pobre”. Ocorre que, o que o escritor nos traz, nas páginas que seguem essa primeira linha, mostra muito mais a riqueza humana, racional ou mística e da própria natureza, que varia de cores e de condições climáticas ao longo dos anos. Ambos – homem e terra – tão sofridos, mas tão recompensados por belezas e magias insuperáveis.
Não é fácil descrever a vida sertaneja. Não é caminho suave. É caminho de pedra, poeira e espinhos. No entanto, os encontros mais além, nas muitas curvas da estrada, são sempre motivos de festa e de vigorosas manifestações de regozijo. Viver o sertão é viver as intensidades do mundo. É sempre épico, sempre estético, sempre altivo e engrandecedor.
Não é à toa que o mestre Benedito busca esses caminhos quentes do semiárido, contando sobre a vida da sua gente e sobre as características dos lugares, os hábitos das pessoas, as crenças, a forma de lidar com os obstáculos, o choro e o riso, a criatividade, a arte e o labor; tudo com destaque às plagas do Ceará e de parte do Rio Grande do Norte. Eis uma frase que exemplifica o que digo: “Como me sinto bem nas duas fazendas onde vivenciei o sertão: Fazenda Aracati, em Sobral, e Rancho Verde, em Mossoró”.
Ao longo da leitura dessa nova obra, vai-se percebendo que o autor não se atém somente aos muitos conhecimentos teóricos obtidos nos seus estudos acadêmicos. Benedito nos exibe, também, o que aprendeu na convivência com o povo e prestando atenção nos personagens múltiplos e de natureza humana riquíssima, os quais conheceu de perto e dos quais recolheu, a partir da sua observação sensível, do seu olhar miraculoso, os conhecimentos mais autênticos.
O livro é isso, vale talvez repetir: autêntico, singular, genuíno, como o autor também se mostra no convívio e nas oportunidades que temos de nos abeberar de suas fontes que jamais secam. À perenidade do conhecimento, Benedito une o prazer textual (Roland Barthes saberia explicar melhor).
Posso garantir ao leitor que o livro é de uma riqueza elevada, desde os temas escolhidos, que formam um caleidoscópio sedutor em que brilham cenas da vida do sertanejo, ando pela linguagem – que nos traz palavras curiosas – de rusticidade marcante, cativante, atrativa. E também vale o imaginário e o imagético (cada frase do livro nos transporta para uma realidade particular e nos arranca da mesmice cotidiana dos dias de trabalho e rotina cansativa e muitas vezes descolorida das cidades maiores).
A compreensão do sertanejo acerca do mundo é de uma sabedoria inalcançável. Só nos cabe (a quem não vive naquele mundo especial) observar e aprender, buscar a aplicação e a explicação mínimas nos dias das cidades maiores e nas áreas ditas urbanas.
Com esse novo livro, o nosso mestre e dileto confrade escritor mostra que a inteligência supera desafios, intempéries, lutas diversas do sertanejo. Supera até as secas, que também se constituem em objeto dos estudos do nosso Benedito Vasconcelos Mendes.
*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).