Coluna da SPVA 3k6j10

A Sociedade dos Poetas Vivos e Afins do Rio Grande do Norte (SPVARN), é uma associação literária e artística de utilidade pública, democrática, sem fins lucrativos, com 27 anos de existência e 68 associados de importante atuação no meio cultural do Estado. Nesta coluna, dominicalmente os leitores serão contemplados com autores e autoras de diversos estilos e gêneros literários. 5w703w

Feito dia de domingo – Entre cortinas, choro e Shakespeare 2743b

01/06/2025 03h50

 

Prezados leitores,

E para esse final de maio, Mês das Mães, trouxemos um texto muito especial cheio de “chamingos” maternais, vindo diretamente de uma convidada que, ainda em uma maternidade de nossa cidade, aceitou ao convite. Trata-se do texto autoral de Mara Varela, Bacharel em Serviço Social e Licenciatura em Letras Libras/Português L2, a qual é natalense, mãe de três filhos, professora e intérprete de Língua de Sinais. Carrega um olhar atento para as miudezas da vida e as escreve como quem conversa consigo mesma — uma maneira de organizar o que vê, sente e percebe nesse cotidiano que nunca a despercebido. Boa leitura!

O mundo, por enquanto, se resume a este pequeno quadrado de tecido bege. As cortinas, que deveriam garantir privacidade, na verdade são fronteiras frágeis entre o que dói, o que nasce e o que recomeça.

O olhar atento da recém-mãe atravessa essa fresta e, do outro lado, não vê rostos – vê pés. Pés que deslizam, apressados, um balé curioso acontecendo, uma coreografia nada silenciosa.

Ao seu lado, ali, sentado numa cadeira de plástico que não respeita a lombar de ninguém, o marido segura um exemplar de Hamlet. Talvez, no fundo, ache algum paralelo entre os dramas do príncipe dinamarquês e os próprios dilemas de quem acaba de se tornar pai: ser ou não ser... capaz de...

Enquanto isso, a sinfonia segue. Um bebê chora no berço ao lado. Logo outro se junta... uma porta se abre, outra puérpera chega, os funcionários da limpeza não pedem licença para a vida que pulsa. Seguem firmes em suas tarefas, ali, a rotina não para – nem para quem acabou de parir.

Enquanto isso, o corpo dói. A cicatriz lateja como se quisesse lembrar a cada segundo que há um portal recém-aberto na barriga. A cada movimento, um puxão. E, no entanto, há uma estranha e luminosa alegria escondida naquela dor. Porque ao alcance dos braços está aquele serzinho frágil, com seus 3.100 gramas de promessa, 48 centímetros de vida recém-inaugurada e um par de olhos que, mesmo fechados, dizem: "Cheguei. E nada mais será igual."

A ansiedade cresce. Todos esperam a mesma sentença – não a de Shakespeare, mas a da enfermeira: “Alta.” Porque, no fim, todos aqui só querem uma coisa: ir para casa. Levar esse pedaço de milagre para dentro das paredes conhecidas e, quem sabe, começar a entender como se vive depois de nascer de novo — dessa vez, como mãe, como pai, como família.

Entre um choro e uma troca de fralda, fica a certeza: a vida começa, recomeça e faz questão de lembrar que, mesmo quando tudo parece caótico, ela segue – linda, bagunçada e cheia de amor – por detrás das cortinas.

Conheça mais sobre a nossa poética e a atuação entrando, estabelecendo conexões conosco, através de nossas redes sociais.

ATÉ BREVE!

Conexões poéticas SPVA:

E-mail: [email protected]

Instagram: @spvarn.oficial

Facebook: SPVA DEBATE LITERÁRIO VIRTUAL

Youtube: SPVARN

Revisão: José de Castro

Coordenação da coluna no âmbito da SPVA/RN: Adélia Costa

 


*ESTE CONTEÚDO É INDEPENDENTE E A RESPONSABILIDADE É DO SEU AUTOR (A).