Wellington Duarte 572g66

Professor, economista, Cientista Politica, comunista, headbanger, flamenguista, americano e apreciador de Jack Daniels 73g2n

Universidades x Orçamento: a peleja do Diabo com o Dono do Céu 351j61

28/05/2025 08h49

 

Nos últimos dias tivemos a oportunidade de ver, pelo menos aqueles que tem o e interesse na informação, vários “jornalões” (Folha de São Paulo, O Globo e Estadão) se lembrarem que existem universidades nesse país. Não, estou sendo injusto. Saber sabem. Mas a forma como olham as universidades é bem característico de um país cuja elite quer que determinadas instituições estejam alinhadas e alinhavadas com suas estreitas visões de mundo, dentre elas a da subordinação das universidades à lógica do funcionamento do tal “mercado”.

 

Se eu fosse uma pessoa de má fé, diria que eles colocaram seus articulistas e editores numa mesma sala e perguntaram à Inteligência Artificial sobre os orçamentos das universidades. Não foi isso, mas chegou perto.

 

Em uníssono colocaram que o problema das universidades são os salários dos docentes e uma espécie de “inchamento” dos seus números relativos à contratação de professores. Colocaram, de forma distorcida números e indicadores, e informaram à sociedade que as universidades “gastam muito”, por isso o orçamento destinado a elas não tem como aumentar. Os articulistas, bem alinhados, dizem que o problema dos orçamentos das universidades está, na verdade, nos salários. Ora, mas os salários não estão dentro dos orçamentos das IFES. Nenhuma universidade retira, do seu orçamento, recursos para pagar servidores. É uma mentira bem articulada que visa embaçar a discussão real, que é a forma como os governos lidam com a forma de veem as universidades como uma das bases do desenvolvimento econômico do país. Esse é o ponto central e eles silenciam.

 

Também é um erro cretino, tratar o ensino como o único ou principal custo das universidades. Grande parte dos investimentos e dos custos operacionais está vinculada à pesquisa — atividade que, paradoxalmente, é celebrada pela mesma imprensa que critica os gastos universitários, e se sabe que a esmagadora maioria dos investimentos que, inclusive, beneficie o setor produtivo e operacional, vem das universidades federais públicas.

 

As universidades obviamente enfrentam dificuldades, inclusive no aspecto pedagógico, afinal não são monastérios e sim um espaço pulsante, onde as ideias pululam, ora suavemente, ora intensamente. As universidades como o próprio termo sugere, tratam, inclusive, de temáticas universais, ou seja, aqueles que entendem as universidades como espaços de formação para o mercado, omitem que, nos países onde a ciência se desenvolveu plenamente, houve um grande esforço no investimento na educação como um todo, na formação geral dos universitários e nos aportes orçamentários para pesquisas.

 

As universidades hoje em dia funcionam sob o olhar vigilante, eu diria exagerado, dos órgãos de controle e cada gasto é controlado. Não existe gasto exagerado. Não existe desvio de recursos e quando há, são prontamente identificados e os culpados punidos.

 

E qual a conclusão? As universidades, apresentadas pelos articulistas como entidades burocratizadas, lentas e inchadas, não são os demônios que parecem ser e o governo, que já teve o controle do orçamento (hoje não tem mais), vive numa disputa com o parlamento para tentar o improvável: cortar gastos para que num futuro, não se sabe quando, os efeitos desses cortes, possibilitem o afrouxamento dos recursos disponíveis e que, com muito sorte e reza, uma parcela dessa sobra, chegue nas universidades.

 

Mas, para finalizar, devo perguntar a quem for ler esta coluna, se as universidades são, de fato, pouco importantes para o desenvolvimento desse país. O que vemos é que essa discussão está distante da sociedade, ocupada em enfrentar as vicissitudes do dia a dia e esse distanciamento pode ser, no futuro, trágico.

 

 


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